sexta-feira, 27 de abril de 2012

..... e que, de novo, aconteça Abril nas nossas consciências! (hoje,in Diário de Viseu)

Há um ano as celebrações do 25 de Abril fizeram-se em clima pré-eleitoral. O discurso de posse do senhor Presidente da República, a 9 de Março, impulsionara o movimento para derrube do governo PS, de José Sócrates.
O BE apresentara uma moção de censura que foi discutida no dia seguinte, a 10 de Março. No dia 23 desse mês, o PSD inventou e fez votar um projeto de resolução que chumbava o PEC IV, documento de orientação política já aprovado pela Comissão Europeia, todos os Chefes de Estado e de Governo e Banco Central Europeu.
O governo de Portugal, com apenas 18 meses, perdia assim toda a capacidade negocial que ganhara para o país. Na Europa ninguém compreendeu esta atitude das oposições! Somou-se, assim, irresponsavelmente, uma crise política a uma crise económica.
Um ano depois, com um governo de direita, a quem a esquerda radical, PCP e BE, estenderam uma passadeira vermelha, os portugueses vivem momentos de terrível dificuldade
Despedimentos, cortes salariais, aumento desmesurado de impostos, corte nos acessos à educação, saúde e justiça, confisco dos subsídios de férias e Natal, ou congelamento do direito à reforma, são algumas das muitas medidas assumidas unilateralmente pelo governo, que não constam nem do memorando da "Troika", nem da "Concertação Social".
Um ano depois, é este o clima, socialmente explosivo, em que estamos a celebrar o 25 de Abril, com "um governo, uma maioria e um Presidente", de direita. É a terceira vez que o PSD, sozinho ou coligado com o CDS, sempre com maioria absoluta, cria o desnorte em Portugal. Primeiro com Cavaco Silva, no segundo governo de maioria absoluta. A seguir, com Durão Barroso e Santana Lopes e, agora, com Pedro Passos Coelho. Em todas as ocasiões deixaram défices recorde, de 7%, com desemprego máximo, confiança mínima, salários em atraso e falências dilacerantes.
Em duas ocasiões, primeiro com António Guterres e depois com José Sócrates, o PS foi chamado a governar, em eleições livres. E por duas vezes os défices caíram abaixo dos 3%, foi feito o reequilibro das contas públicas e controlado o desemprego até que em 2008 estalou em toda a Europa uma crise sem paralelo nos últimos 80 anos. A direita e a esquerda radical “brincaram à política”, com coisas sérias, cantando em uníssono, com o senhor Presidente da República, que a crise era "produto nacional, exclusivamente português".
Ora aí está o resultado da irresponsabilidade: uma crise económica ainda mais grave, a que se soma uma crise política desnecessária, a concitar paixões exacerbadas que em nada ajudam e tudo prejudicam. Mas há um outro resultado: o sofrimento de todo um povo que ultrapassou todos os limites do seu sofrimento.
Isto é objetivamente real, mas não significa que o PS não tenha cometido erros. Era um erro não o reconhecer. Existe, no entanto, um ainda maior, que se pretende esconder: é o de que com o PS foi possível resolver as crises da direita, reequilibrar as contas públicas, voltar a crescer e devolver a esperança aos portugueses.
Reconhecer esse empenhamento é tão importante como dizer aos portugueses o que eles começam a perceber: é que em 2008 estalou uma crise planetária, que teve por parte do PS um combate, mais uma vez, ousado, a pensar no país e nas pessoas, exigindo limitações fortes, é verdade, mas que se revestiram de um máximo possível de consciência social e proteção das famílias.
Hoje estamos pior, muito pior, com um predomínio dos fortes sobre os fracos, sem esperança. Entendo que seremos capazes de ultrapassar, mais uma vez, um momento extremo. Todos não seremos demais. São necessárias porventura duas coisas: que o governo deixe de malbaratar a disponibilidade do PS e dos parceiros sociais e que, de novo, aconteça Abril nas nossas consciências.
DV 2012-04-25

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