sábado, 28 de abril de 2012

O PRESIDENTE ENCONTROU A DÉCADA QUE SE JULGAVA “PERDIDA”

O discurso do Presidente da Republica surpreendeu os partidos em geral e o governo muito em particular. Ao eleger a imagem e credibilidade externas de Portugal como ponto focal da sua mensagem, Cavaco Silva enunciou os argumentos concretos que o país já possui. E fê-lo com inusitado pormenor, com base essencialmente na excelência da última década.
Como referiu Felipe Santos Costa do Expresso, "O que Cavaco repetiu foi boa parte dos argumentos que, ao longo de várias sessões legislativas, José Sócrates elencou em inúmeras intervenções, dentro e fora da Assembleia da República. Porque as razões do orgulho português, tal como o PR as apresentou hoje, 25 de abril de 2012, são em grande medida as bandeiras do Governo anterior: o salto que o país deu na ciência, na investigação e desenvolvimento, na cultura, nas artes plásticas, nas indústrias criativas, na inovação em setores tradicionais, no investimento em infraestruturas e em energias alternativas. Até no plano político-diplomático Cavaco se recorreu da herança dos governos socialistas, ao louvar o Tratado de Lisboa e a eleição de Portugal para o Conselho de Segurança da ONU."
Ao longo da intervenção, a incomodidade do governo era visível, muito a par da apreensão das bancadas do PSD e do CDS. Afinal, as desculpas com o passado chegavam ao fim, abruptamente. Esse "porto de abrigo", o tal “passado”, esgotou-se, já não comporta mais desculpas.
No fundo e no fim, o Presidente sublinha a tese de António José Seguro, a de que “há outro caminho”, facto que obriga o governo a redirecionar-se para as respostas do futuro e não para as desculpas com o passado, conforme, aliás, Pedro Passos Coelho prometera. A partir de agora, a exigência para com o governo será outra e a atitude também.
Este é um preço que a maioria teve de pagar para evitar que Cavaco Silva dirigisse o seu olhar para as políticas internas, o desempenho do governo e a crise. Para o próprio, seria também uma incomodidade falar sobre o assunto, porque estando o país pior, muito pior, do que há um ano atrás teria dificuldade, muita dificuldade, em escolher as palavras certas ou mais assertivas para a “sua” maioria.
Nessa altura, para o governo PS de José Sócrates, dirigiu palavras duríssimas, detonadoras de uma crise política que se somou a uma crise económica. O Presidente sabe que é corresponsável nos resultados deste governo, sejam eles quais forem. Assim, preferiu centrar-se nas duas últimas décadas, mas com uma ênfase estrondosa para a última, a que afinal encontrou e que, até agora, se julgava ter sido uma década perdida!
DB 2012-04-26

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