terça-feira, 26 de junho de 2012

PASSOS COELHO, A CADA UM A SUA ESPECIALIDADE

Ao fim de um ano, o governo lançou um livro com o autoelogio do seu desempenho e concluiu estarem "criadas as bases para um novo e duradouro ciclo de crescimento". É verdade, e nem outra coisa seria de esperar.
Vai crescer o encerramento de tribunais, de extensões de saúde, de postos da GNR, de centros de novas oportunidades e de repartições de finanças; vai crescer ainda a falta de medicamentos nas farmácias, o número de alunos que abandonam as universidades, os pedidos de insolvência das empresas.
Cresceu também a destruição de postos de trabalho em 4,2%, mais 203 mil, factos que têm feito com que as projeções do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, o tenham elevado ao nível de ministro da “Retificações”.
E lá virá o dia, mais cedo do que tarde, em que nos “explicará” o segundo resgate ou o “reforço” do primeiro, como lhe queira chamar. Que seja a gosto, como diz o brasileiro! E Pacheco Pereira voltará a repetir: Não há uma única estatística, prazo ou elemento que bata certo”!
Na frente europeia Passos Coelho passa os piores momentos. Apático, sem rumo, uma ideia ou estratégia, entregou-se nas mãos de Merkel e Vítor Gaspar que, piamente, o convenceram de que o caminho da felicidade é o do empobrecimento, oportunidade que o 13º ministro, António Borges, recrutado no quadro da “mobilidade especial”, aproveitou para sublinhar que é necessário baixar ainda mais os salários.
Eis senão quando se vê emergir Hollande como presidente da França, com uma agenda para o crescimento e emprego, privilegiando as pessoas, ao arrepio da proteção que a chanceler dá aos mercados e à especulação. Em consequência, o Ato Adicional ao Tratado Orçamental, proposto por António José Seguro, é aprovado na Assembleia da República, exatamente o mesmo que a maioria havia reprovado antes da vitória de Hollande.
E agora, para ter acordo com o PS no próximo Conselho Europeu, Passos Coelho deve respeitar as teses que foram aprovadas na Assembleia da República, porque é a posição de Portugal. Pode, quando muito, reforçar a que existe, a não ser que se queira romper o consenso com o PS e fingir liderar alguma coisa, seja lá o que for.
A crítica ao fixismo ideológico do governo, para não sermos suspeitos, ficará para “pessimistas” como Bagão Félix, ao notar que o “Estado está viciado na austeridade” e que ela se dirige sempre aos mesmos e nada resolve; ou para Manuela Ferreira Leite ao denunciar, também, que “esta austeridade intensificará a crise”, que “é preciso mais tempo”, em plena sintonia com António José Seguro, solução pela qual se tem batido, desde início, de modo a aliviar a austeridade sobre os portugueses e a abrir uma janela de oportunidade para as empresas, o crescimento e emprego.
Não obstante tudo isto, o PSD no governo, transformou-se num partido de casos. Consentiu a nomeação de Eduardo Catroga para a EDP, atribuindo-se-lhe, segundo o próprio, um justo “preço de mercado”, superior a 600 mil euros anuais. Quase ao mesmo tempo “patenteou” uma inovação que permite transformar um autarca, cliente-devedor das Águas de Portugal - o maior - em administrador-credor, mesmo depois de ter perdido em tribunal a queixa que apresentara contra a empresa.
Como cereja no cimo do bolo, há ainda a salientar o esforço de bom relacionamento institucional entre Miguel Relvas e o ex-diretor do serviço de informações que, apesar de não se conhecerem bem, foram comensais, negociaram e até trocaram “sms”, com sugestões simpáticas, correspondidas, sobrando mesmo o tempo necessário para dar largas ao espirito cientifico e investigar a vida de pessoas e empresas para um dia, sabe-se lá quando, poderem, em clima “very friendly”, fazer-lhes uma surpresa ou prometer expor a vida privada de alguém, coisa que, neste caso, a ERC assumiria numa perspetiva “neoblanc”.
Assim se compreende que Paulo Portas, sabiamente, se mantenha distanciado destes momentos estranhos, talvez por isso mesmo, por serem estranhos ao “múnus” dos Negócios Estrangeiros, da Segurança Social ou da Agricultura, Mar e Ambiente. E faz bem. Ao fim de um ano de Passos Coelho, a cada um a sua especialidade!
                                                                                                                        José Junqueiro
Vice-presidente do GP PS

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