sexta-feira, 30 de novembro de 2012

(opinião) “Portugal não vai ter o orçamento de que precisa”

O OE 2013 foi aprovado na Assembleia da República pela maioria PSD e CDS num ato de total isolamento político. O PS, como todas as oposições, votou contra e com fundamentadas razões.
A execução orçamental de 2012 foi um insucesso permanente. Todas as previsões do governo foram sucessivamente retificadas e, mesmo assim, nenhuma delas se confirmou. O OE 2013 segue o mesmo caminho, de forma mais intensa, e de uma dureza desnecessária e iníqua para com as pessoas. Só o ministro das Finanças não quer ver e o primeiro-ministro está “proibido de ver”. Lamentável, mas como Marcelo Rebelo de Sousa disse, “estava impreparado”
Por isso, António Seguro, em nome do PS, referiu assertivamente: “Não existe uma segunda oportunidade para votar este Orçamento, nem há margens para enganos, muito menos para voltar ao início. Não há lugar a desculpas nem álibis. Este é um dia sem regresso, onde cada um de nós parte acompanhado com a responsabilidade do nosso voto”.
E a situação não era para menos. Até mesmo, na maioria, no PSD, Miguel Frasquilho ensaiou, com 18 deputados, uma declaração de voto para “aliviar” um pouco as consciências de alguns. Foi prontamente dissuadido e todos mergulharam num texto conjunto para disfarçar o incómodo.
O porta-voz do CDS, João Almeida acaba por escrever como justificação do seu voto: "Na sua versão final, este Orçamento mesmo que funcione como exercício académico, terá graves problemas de aplicação prática, em resultado das enormes dificuldades que vai criar às pessoas".
É que, no fundo, a maioria PSD e CDS votou sim por obediência, mas não por convicção. João de Almeida do CDS vai mais longe e explica a sua apreensão naquilo que chama de  "…os cinco riscos muito significativos" deste OE: "a carência de justificação clara para a dimensão do ajustamento necessário; a difícil sustentação do cenário macroeconómico; a desproporção entre o esforço do estado e o esforço solicitado às famílias; a insuficiência das alterações introduzidas, em sede de especialidade; e a introdução de medidas que comprometem reformas futuras".
Como se constata, às críticas socialistas juntam-se vozes que estão no limite da sua tolerância e que, em boa verdade, acham que este orçamente é um risco e não serve os interesses de Portugal. Tal como eu, são muitos os que agora compreendem o PS, os seus caminhos alternativos, as propostas que ousou apresentar, como, aliás, se impunha.
Em síntese, como disse o líder do PS, “O primeiro-ministro vai ter o orçamento que quer, mas Portugal não vai ter o orçamento de que precisa”.

DV 2013.11.28

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