sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Henrique Monteiro - Cobardia Política


Os sucessivos episódios que o relatório do FMI está a provocar mostram à exaustão a falta de coragem política e o destempero que atingiu os responsáveis deste país. Vamos por partes, para que se perceba melhor o que está em causa.
Portugal tem gasto mais do que produz e, ainda que volte ao crescimento, não conseguirá sustentar o nível de despesa. A ideia de voltar aos mercados, postulada por Gaspar e Passos, corresponde à possibilidade de Portugal voltar a endividar-se.
Porém, se o volume das despesas do Estado não diminuírem, não é possível equilibrar as contas públicas e muito menos baixar o enorme nível de impostos existente que são, em si, um travão ao próprio desenvolvimento.
Perante isto, pode haver muitas escolhas e não necessariamente saídas de um catálogo do FMI. Mas vejamos como, perante este cenário, reagem os atores políticos nacionais.
 1)      O Governo esconde-se atrás de um relatório que, aparentemente, encomendou ao FMI, como se não tivesse, ou não devesse ter, uma posição sobre o assunto; o Governo teme perder ainda mais popularidade se tiver de assumir o risco de discutir uma redução do peso do Estado;
2)      Parte do Governo (CDS) finge que não sabe de nada; deixa o ónus para o parceiro de coligação, dizendo coisas vagas, mas não explicando o que, em seu entender, se cortaria na despesa;
3)      Parte do PSD (Carlos Carreiras) avisa que o problema está no sorriso de um secretário de Estado e exige a sua demissão, a fim de garantir votos numas eleições autárquicas onde tem medo de ser cilindrado, caso pareça estar relacionado com estes problemas mesquinhos de falta de dinheiro;
4)      O PS refugia-se em argumentos de falta de legitimidade do Governo; ou seja, não se obriga a dar alternativas, como se não soubesse que a despesa é totalmente insustentável, ou não tivesse, também, responsabilidades nessa matéria;
5)      O Bloco de Esquerda insulta, através da deputada Catarina Martins. Chama o Governo criminoso; Ana Avoila, líder dos sindicatos da Função Pública, ligada ao PCP, para não ficar atrás, chama-lhe mafioso;
6)      O Estado, prestando cada vez menos serviços e com menos qualidade, gasta cada vez mais dinheiro. Parte é em juros da dívida, contraídos com crescimento artificial gastos em cimento.
No meio de tudo isto, não há ninguém que queira, efetivamente, mudar o país, discutir o que deve ser feito. Mais: parece haver uma conspiração para que jamais seja mudado este estado de coisas, de modo a que o Estado continue a ser propriedade de alguns e sustentado através do confisco.
Mas é deprimente ver Portugal chegar a uma situação em que vamos ter de executar o que os outros mandam, sem qualquer discussão. Se é essa a estratégia de Vítor Gaspar, pode agradecer o facto de tanta gente cair na sua armadilha.
 Twitter: @HenriquMonteiro https://twitter.com/HenriquMonteiro
Facebook:Henrique Monteiro http://www.facebook.com/hmonteiro   

1 comentário:

  1. Confesso que não percebi a posição do Henrique Monteiro. Mas não se admirem, ele é daquele tipo de pessoas que abundam no retângulo, que cultivam uma equidistância calculista entre os partidos do poder - alimentada ou não por esses aparelhos discretos que controlam muita coisa, isso já não sei… - procurando dar-se ao mesmo tempo um ar crítico em detalhes menores, mas que na realidade não afectam em nada os interesses dominantes.
    Um dos problemas do Henrique - aliás da maioria dos analistas mediáticos - é que não percebem nada de Economia. Daí contentarem-se com estas generalidades dos "gastos maiores que a produção", como se a economia não fosse uma coisa dinâmica e a produção, logo o Rendimento, não dependessem da estratégia seguida.
    Exemplo: Uma empresa tem uma grande dívida e o seu exercício anual é negativo. Para estes curandeiros econométricos feitos à pressa, só pode cortar nas despesas. Mas, curiosamente, isso pode ser fatal. É justamente o que sucede ao País neste momento. Muitas empresas – vidé General Motors, o remédio que tiveram foi receber uma injeção de milhões, restruturarem-se e apresentarem novas estratégias de ataque ao mercado, terem mais vendas e assim pagarem as dívidas. Mas, espanto!, não é esse o raciocínio para a recapitalização da banca em curso? Porque é que os bancos à beira do colapso recebem milhares de milhões, a custo próximo do zero, e os países não podem recebê-los? Diz-se que é porque os bancos são vitais ao sistema. É uma treta, mas adiante. Já os estados-nações com 9 séculos de História, como Portugal, esses, pelos vistos não são vitais. Pois não… que novidade!

    Claramente há uma agenda política ou, de forma mais simples, uma estratégia secreta de ganhos de poder por parte de determinados países enquanto outros são simplesmente carne para canhão. É o caso de Portugal, e dos países da periferia e do sul da Europa.
    Depois de suportarem os custos dum Euro fortissimo que, desde o seu lançamento, beneficiou apenas países como a Alemanha e a França, com bens resistentes no mercado global (armas, produtos de luxo, maquinaria e marcas específicas, etc.), suportaram esses países do sul e da periferia europeia os ataques especulativos do terrorismo financeiro internacional, sem nenhuma ajuda do BCE (que só interveio a sério, e mesmo assim pouco, quando Itália e Espanha ficaram sob fogo especulativo porque, aí, todo eurosistema ficou ameaçado.

    Agora vêm os agentes da casa funerária (a famigerada troika)fazer de avaliadores e concluem: “países não viáveis, gastam muito e ganham pouco, tratem de emagrecer até morrer”.

    Ou seja, os mesmos agentes que provocaram a doença, diagnosticam os remédios e tratam de preparar o enterro do doente, mantendo a mesma pose cínica de curandeiros de pacotilha.

    Sem qualquer conotação com o confuso e prolixo Bloco de Esquerda, devo confessar que acho que a deputada Catarina Martins até foi branda nos epítetos que usou.

    Seja sério, Henrique Monteiro.
    E se quiser, faça-me a pergunta que os seus compagnons de route, esses vígaros políticos, fazem sistematicamente: "mas homem, onde é que você arranja dinheiro para pagar as despesas?"

    Prometo responder, e fazê-lo sem as demagogias que você tanto acha que denuncia.


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