quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ricardo Junqueiro - Cartel? Não, obrigado!

Sugerir que na economia nacional abundam os entendimentos entre concorrentes quanto a preços ou clientes é uma generalização injusta. Basta olhar para certos sectores onde as empresas prestam serviços de qualidade, desenvolvem tecnologia de ponta, ou onde travam guerras de preços, para se perceber que sem um estímulo para se superarem mutuamente, tal não seria possível.
Falar de cartéis nestes casos não faz sentido. Porém, em certos mercados nacionais não existe uma verdadeira cultura de concorrência. Nuns casos, é a estrutura do mercado que a isso convida. As empresas ajustam-se prudentemente aos comportamentos dos rivais, esperando igual prudência do outro lado. Noutros, preferem simplesmente o conluio.
É nestes que a AdC deve focar-se, desenvolvendo campanhas que aumentem o risco de deteção. Mas como se faz isto? Uma das armas de maior sucesso no combate aos cartéis a nível mundial são os programas de clemência. Imagine que participa num cartel secreto de fixação de preços com o seu principal rival. Dormiria descansado sabendo que podem não estar ambos no mesmo barco? Que este o pode denunciar e sair impune? A instabilidade que tal opção introduz no equilíbrio dos "cartelistas" tem sido decisiva para as investigações em todo o mundo. Contudo, em Portugal não é bem assim. Mesmo quando confessar pode ser a saída óbvia, os portugueses resistem à delação.
Talvez o facto de a relação pessoal desempenhar um papel central nos negócios, aliado à herança da ditadura, que nos criou uma aversão natural à figura do "bufo", contribuam para explicar as dificuldades de funcionamento deste mecanismo e também do combate aos cartéis em Portugal.
Não significa isto que, por cá, as empresas vivam conluiadas. Há que separar "o trigo do joio" e evitar generalizações: muitas das nossas empresas competem a sério e merecem tal reconhecimento. Quanto às que preferem não o fazer, temos que confiar que as instituições farão o seu trabalho e ajudarão o País a ter mais mercados competitivos.
Ricardo Junqueiro, Advogado

Sem comentários:

Enviar um comentário