sexta-feira, 27 de junho de 2014

(Opinião) Câmara em estado de negação

Os vereadores do PS têm assumido uma posição responsável no exercício do seu mandato. São oposição, mas não são do contra. Os eleitores confiaram-nos um mandato para defendermos os seus interesses, os do concelho, para nos constituirmos em parte da solução e não do problema. E assim tem sido, apesar das situações limite em que demos à maioria o benefício da dúvida.
No entanto, a reciprocidade não tem funcionado. Todas as propostas apresentadas são imediatamente rejeitadas a não ser que fossem transformadas em sugestões ou recomendações. A candidatura de Viseu à rede europeia das cidades amigas das pessoas idosas, o gabinete do agricultor ou a criação, pela autarquia, de um campo de férias para as crianças de famílias são exemplos concretos.
A rejeição liminar chega a ser caricata. O gabinete do agricultor, por exemplo, foi chumbado o ano passado, porque, dizia a maioria, já existia em espaço próprio, o do gabinete do vereador responsável, imagine-se! Ora, como todos sabemos, e assim foi publicitado, acabou de ser criado no papel há poucas semanas, pela maioria, mas sem o envolvimento de todos os agentes. Não existia, nem funcionava, portanto!
Pelo contrário, a proliferação de parcerias externas, com dotação financeira própria, tem merecido o desacordo em casos concretos: desde o Centro Cultural Distrital, ilegítimo e sem controlo, até à “Viseu Marca”, substituta de Expovis, o último exemplo, mereceram a nossa reprovação pela falta de regras de controlo e transparência.
Nenhuma das recomendações para a competitividade, quer ao nível de solos (“trocar metros quadrados por empregos”), quer no âmbito de uma fiscalidade ou desburocratização amigas do investidor foram aceites. Tudo tem falhado, para gaudio de concelhos vizinhos que assim foram preferidos em detrimento do nosso. Mangualde e Nelas, só este ano, já contratualizaram investimentos para cerca de mil postos de trabalho. Ali há “mais emprego e melhor futuro”, conforme era o nosso slogan de campanha que, por mera coincidência, aparece agora numa publicidade televisiva.
Entre nós tudo está na mesma ou quase. A autarquia transformou-se num grande centro de eventos e até numa enorme IPSS. Sim, os subsídios individuais para medicamentos, próteses ou óculos, entre outros, são assunto de todas as reuniões. E aqui sim, como gostaríamos que essas capacidades financeiras fossem transferidas para as instituições que no terreno têm essa missão solidária!
A publicidade tem sido usada como substituta da realidade, mas o que verdadeiramente temos é um executivo novo com vícios antigos. A continuar por este caminho o estado de graça dissipar-se-á. A isso seremos obrigados por uma câmara em estado de negação.

Dv, 2014-06-25

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