sábado, 31 de janeiro de 2015

(Opinião) Paulo Macedo ultrapassou o prazo de validade

O ministro da Saúde está a colher os frutos de uma política errada, mas quem sofre as consequências são os utentes do SNS. Os cortes, de 2011 a 2014, superaram em 61% o memorando assinado com a “Troika”.
E, como se constata pela execução orçamental do ano passado, houve um excedente fiscal de mil milhões de euros, acima do previsto. E o défice será menor em função, segundo a UTAO, pelos cortes no investimento e na formação. Razões nada virtuosas, portanto.
Não havia necessidade! Tudo para construir um cenário falacioso em ano eleitoral que permita dizer, em síntese, temos dinheiro a mais e até vamos pagar parte do empréstimo ao FMI. Claro que todos entenderão o significado das coisas, sobretudo o primeiro-ministro, porque, tal como ele, mas por razões inversas, não podemos pensar no dia de hoje esquecendo o de amanhã.
O ministro Paulo Macedo não esqueceu o amanhã eleitoral, mas também não se deteve no futuro do SNS, nem na desqualificação que sobre ele lançou durante quatro anos. Ser o responsável da Autoridade Tributária é uma coisa, mas ser tutela da Saúde é outra bem diferente. No primeiro caso lida com números e no segundo com a vida das pessoas.
E lida mal. Não são apenas as más notícias das urgências, do atendimento deficiente, da impreparação e dos óbitos já registados que falam mais alto. São os hospitais ingovernáveis, os adiamentos cirúrgicos, nomeadamente em oncologia, a falta de material, a desmotivação das equipas e o despudor na contratualização laboral.
A inexistência da reforma hospitalar, sempre prometida e permanentemente adiada, tipifica bem a incapacidade de realização, previsão e planeamento do ministério da Saúde. As consequências atingem o INEM cujo presidente acaba de manifestar a necessidade de autonomia na contratação de recursos técnicos.
O “espartilho” imposto nos nossos dias, pelo governo, no que respeita à prontidão das equipas implica que o INEM para dar resposta a um qualquer episódio tem de subtrair às urgências os técnicos que nelas se encontram em atividade, interrompendo-a.
É importante sublinhar ainda, neste contexto, que o recurso às empresas de trabalho temporário para os diferentes atos médicos destrói o espírito de equipa de qualquer unidade de saúde, também em Viseu. Não fora a dedicação ou o espírito de entrega dos profissionais e a situação seria bem pior.
Em Viseu continuamos sem notícias do centro oncológico e não as temos também para as obras que permitirão aumentar o espaço físico das urgências no centro hospitalar em Viseu.
Obras urgentes que vão qualificar as condições de trabalho de todos os profissionais, que vão aumentar a sua eficiência e que, por último, vão permitir mais dignidade no atendimento dos doentes e no seu acompanhamento pelas famílias.
Não podemos culpar o Conselho de Administração, mas tão só o governo e o ministro que recebemos em Viseu, em 2014, no centro hospitalar, e que nos dirigiu palavras à margem da verdade. Paulo Macedo ultrapassou o prazo de validade, tal como o governo.

DV 2015.01.28

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