quarta-feira, 29 de julho de 2015

(Expresso) O que é que Ricardo Salgado tem?

O que é que Ricardo Salgado tem?

Até há um ano, sabia-se o que Ricardo Salgado tinha: influência, muita influência, e poder, muito poder. Por isso é que era conhecido pelo Dono Disto Tudo. Agora, apesar da sua prisão domiciliária, as condições em que ela decorreu e as medidas de coação que lhe foram impostas, provam que a sua aura de DDT ainda não desapareceu. Ou então que, para o juiz Carlos Alexandre, há filhos e enteados (da Justiça, entenda-se).
Um ano depois da resolução do Banco Espírito Santo (ou melhor, da sua extinção, ordenada pelo Banco de Portugal) e da implosão do Grupo Espírito Santo, o juiz Carlos Alexandre invoca como motivos para a detenção domiciliária de Ricardo Salgado os riscos de fuga e perturbação do inquérito, através da ocultação ou manipulação de provas. Ora muito bem: durante um ano, o dr. Ricardo Salgado não esteve sujeito a nenhuma medida de coação no âmbito deste processo. E agora, ao fim de um ano, é que há riscos de que fuja ou que destrua documentos ou esconda património? Se o quisesse fazer teria esperado 365 dias para começar a atuar nesse sentido? Isto faz algum sentido?
Como perguntou Luís Marques Mendes: “Porque é que se demorou quase um ano a constituir arguidos? (…) Percebo que é um processo muito complexo, mas o Ministério Público deveria, no mínimo, dar uma explicação.”

PARECE QUE PASSOU A HAVER UMA JUSTIÇA QUE SERVE PARA HUMILHAR OS POLÍTICOS E OUTRA, MAIS SUAVE, PARA BANQUEIROS

Mais: o dr. Carlos Alexandre impôs a Duarte Lima a detenção em casa com pulseira eletrónica. Fez o mesmo com Armando Vara. E queria fazer coisa idêntica com José Sócrates, recusando o que o ex-primeiro-ministro pretendia: ir para casa com vigilância policial à porta. Com Ricardo Salgado não propôs essa medida porquê, sabendo-se que a vigilância policial é bastante mais onerosa para os cofres públicos? Ou propôs, Salgado recusou e ninguém sabe? Volto a invocar Luís Marques Mendes: “Porquê vigilância policial? Admitindo que seja por questões de natureza técnica ou logística, estou do lado das pessoas que querem ajudar a credibilizar a justiça e, por isso, acho que era devida uma explicação.”
E como é possível que no caso de Armando Vara e José Sócrates, apesar de se terem disponibilizado para prestarem informações, tenham sido detidos e conduzidos em carros policiais para os calabouços do Ministério Público a fim de prestar declarações ao juiz Carlos Alexandre – e no caso de Ricardo Salgado não só foi de motorista, como regressou a casa igualmente no seu carro com o respetivo motorista, apesar do invocado risco de fuga?! Não é um bocadinho ridículo?

Lamento, mas parece que passou a haver uma Justiça que serve para humilhar os políticos e outra, mais suave, para banqueiros. E esta impressão só é corrigida se o Ministério Público der informações esclarecedoras aos cidadãos sobre o que justifica a forma como foi tratado Ricardo Salgado, por oposição aos casos de Duarte Lima, Armando Vara e José Sócrates. De outra forma, a suspeita está criada.

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