sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

ÚLTIMA hora - Regulador da aviação chumba venda de 61% da TAP

(herminia.saraiva@economico.pt) ANAC continua com dúvidas quanto à estrutura accionista do consórcio que venceu a privatização da companhia aérea e coloca o grupo TAP em gestão corrente. Medidas cautelares duram três meses.
A Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) continua com dúvidas quanto à estrutura accionista do consórcio Atlantic Gateway que venceu a privatização da companhia aérea. Perante os elementos facultados pelo consórcio, o regulador decidiu impor limites, colocando o grupo TAP em gestão corrente até que o consórcio esclareça quem manda na TAP, ou seja, David Neeleman ou Humberto Pedrosa, cumprindo assim a regulamentação europeia de controlo.
O regulador indica também estar incapaz de avaliar o impacto do acordo assinado entre o novo Governo e o referido consórcio, referindo que as medidas cautelares vão durar três meses. 
O Económico sabe que a decisão do regulador apanhou de surpresa o Governo, pois ainda ontem o gabinete de Pedro Marques, ministro das Infra-estruturas e do Planeamento, enviara à ANAC uma cópia do memorando de entendimento assinado no passado dia 6 com o consórcio. No documento ainda não está definida a estrutura de capital futura, situação que só deverá ficar fechada com a assinatura do acordo de venda, a qual deverá acontecer até dia 30 de Abril.
Conforme pode ler-se no ponto 5 do documento, "a deliberação de imposição de medidas provisórias funda-se, essencialmente, no juízo preliminar da ANAC – baseado na análise da documentação entregue até à presente data pelas notificantes – da existência de fundados indícios de desconformidade da estrutura de controlo societário e financiamento apresentada para a TAP, S.A. e para a PGA, S.A. com as imposições decorrentes do Regulamento 1008/2008 no que respeita ao requisito de controlo efectivo por parte de nacional de Estado-Membro da União Europeia. Refira-se que algumas das preocupações sublinhadas em parecer prévio desta Autoridade não se mostram devidamente acauteladas na operação efectivamente notificada".
No ponto 6 do comunicado indica-se que "as medidas cautelares correspondem, essencialmente, à imposição de limitações à gestão das empresas objecto da notificação, impedindo que sejam tomadas decisões de gestão extraordinária ou que tenham um impacto materialmente significativo no património, na actividade e na operação dessas companhias sem o acordo prévio da ANAC".
A ANAC "entende que as medidas impostas, nesta data, são adequadas aos fins prosseguidos, necessárias e proporcionais para assegurar o cumprimento do Regulamento, destacando que os accionistas manterão o controlo da gestão das transportadoras aéreas, sem prejuízo das obrigações de reporte e das limitações de gestão extraordinária", além de considerar que a imposição de medidas cautelares afigura-se também totalmente adequada a assegurar a manutenção da estabilidade na actividade da TAP, S.A. e da PGA, S.A., no interesse de todos os seus 'stakeholders'".
A questão de quem manda na companhia levou os accionistas da Atlantic Gateway a Bruxelas em Julho para explicar a estrutura que compõe o consórcio. Lá, asseguraram às autoridades que é Humberto Pedrosa, português, quem tem o controlo, o que respeita a imposição de nacionalidade europeia feita pelas normas europeias. Antes, o empresário dono da Barraqueiro afirmou, em entrevista ao Económico, que será responsável pela nomeação da maioria dos administradores da TAP.
A reversão do negócio efectuado pelo anterior Executivo – o qual mereceu críticas de toda a oposição por ter sido concluído já após a queda no Parlamento da solução governativa apresentada pelos líderes da coligação PàF, Passos Coelho e Paulo Portas – ocorreu este mês.Na cerimónia da assinatura do memorando, o primeiro-ministro optou por falar para fora, deixando recados aos investidores internacionais. "A escolha democrática foi feita, os direitos foram garantidos, a legalidade é garantia, a continuidade dos direitos é uma garantia", disse, sublinhando ainda que "Portugal é um Estado de direito que respeita e procura o investimento estrangeiro."
Após se conhecer o acordo entre o Executivo de António Costa e os accionistas da Atlantic Gateway, efectivado neste mês de Fevereiro, os partidos que apoiam o PS no parlamento mostraram-se contra a solução encontrada pelo actual Governo, defendendo antes uma privatização completa. O PCP referiu que "a privatização da TAP não serve os interesses do país", enquanto o Bloco de Esquerda considerou que "não defende completamente o interesse público".


Sem comentários:

Enviar um comentário